Portadora de Síndrome de Down de Cosmópolis dá lição sobre superação

Letícia Leme/Foto: Henrique Oliveira

Uma música solene, o som da água caindo pela cascata – que enfeita o jardim de inverno do quarto dela – e o amor. Elementos que segundo Marcela, servem de inspiração para a escrita. E quem a conhece sabe que de todos os temas, a natureza é o preferido da menina/mulher que, aos 31 anos, deu vida ao livro “Belezas da Natureza”.

A paixão pela escrita veio cedo e com o apoio da família, Marcela lançou o primeiro livro autoral. As poesias que compõem o exemplar ilustram experiências, amores e personagens significativos da vida dela, assim como o noivo Lucas. Esse, só de pronunciar o nome, já despertou um sorriso e fez brilhar os olhos, que ligeiramente fitaram a mão enfeitada por duas alianças de compromisso.

Enquanto narrava a história de amor, Marcela relembrou a ocasião em que uma amiga em comum apresentou os dois. Primeiramente “como amigo”,  ponto que ela fez questão de frisar, enquanto contava timidamente como tinha sido o momento. Mas foi só lembrar do pedido de namoro que a euforia tomou conta da timidez, e Marcela caiu na gargalhada enquanto repetia as palavras que confirmaram o pedido, “Yes, I do my love”.

O encontro entre os dois acontece de 15 em 15 dias, e nele aproveitam para tomar sorvete, caminhar e fazer aquilo que mais gostam de fazer juntos: assistir filme de terror. Os beijos e abraços, no entanto, ficam para depois.

Contudo, o casal pensa em tornar o relacionamento ainda mais sério. O casamento está para acontecer daqui há três anos e Marcela ainda está decidindo onde passará a lua de mel.

Apesar da indecisão, a praia tem um carinho especial de Marcela – quem sabe ela não decida por uma das tantas distribuídas pelo mundo. O carinho pelo mar é tanto que a inspirou a escrever uma das poesias encontradas no livro “Belezas da Natureza”, cujo título fala por si só “O mar e eu”. Este, segundo ela, foi um dos mais publicados, seguido de “A poesia sobre o pensamento”.

Enquanto dona Zoraide, mãe de Marcela, relembra os prêmios conquistados pela filha, o 1° lugar no concurso de Ábaco, antigo instrumento de cálculo, é mencionado. A mãe descrevia o título e o grau de dificuldade, quando Marcela interrompeu dizendo que “o difícil existe somente para quem não sabe”, deixando um silêncio e um ar de reflexão na sala, onde há pouco havia sido contada toda a trajetória vivenciada por Marcela.

Trajetória esta que prova que a Síndrome de Down não impede ninguém de viver.

 

Coração de papel

A minha lembrança está no meu coração.

Coração de papel.

Num pedaço de papel está escrito:

A sabedoria é saber coisas maravilhosas sobre a vida,

Vontade de vencer e ajudar.

De amar as pessoas de palavra

Que tem o segredo da vida 

Que nos traz pensamentos de alegria 

Que faz da vida poesia.

(Marcela Romanholi de Oliveira)

Dia Internacional da Síndrome de Down

No dia 21 de março comemora-se o dia Internacional da Síndrome de Down (DISD). A data foi criada a fim de celebrar e também garantir que as pessoas possuidoras da síndrome tenham as mesmas liberdades e oportunidades que qualquer outra dentro da sociedade. “Ninguém fica para trás” é o tema estabelecido para este ano, que trabalhará na conscientização de que todos devem andar lado a lado, sem discriminação ou exclusão.

A data 21/03 não marca o nascimento ou morte de alguém. Ela foi sabiamente escolhida em virtude da Síndrome de Down ser uma alteração do cromossomo “21”, em que o normal é que se tenha 2 pares, mas a pessoa com a deficiência nasce com “3” pares do cromossomo.

O dia é comemorado por todos os 193 países que participam da ONU e  foi oficializado após uma iniciativa da Down Syndrome International. Nele se espera que sejam organizadas palestras, workshops e caminhadas, a fim de despertar a sociedade para a importância da luta pelos direitos igualitários, o bem-estar e inclusão das pessoas com Down.

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