01/05/2019

Lixeiro: uma vida por trás do caminhão

No dia do trabalhador, acompanhe a rotina dos coletores de lixo de Cosmópolis

Letícia Leme / Vídeo: Henrique Oliveira

“Eu não te criei para ser lixeiro”, diz o pai que espera que o filho se forme em medicina. “Não estuda para ver, vai acabar atrás de um caminhão de lixo”, a mãe repreende a filha pela nota baixa. São expressões usadas diariamente, não tem porque fingir espanto. E você provavelmente já ouviu uma delas, ou quem sabe, as disse.

Não há mal em almejar uma profissão em que o salário é alto. O grande problema dessas expressões, no entanto, está no preconceito que elas carregam. Na forma como inferiorizam uma pessoa pela atividade que exerce e enaltecem a outra pelo mesmo motivo. Como se não houvesse uma dependência entre elas.

No meio de tanto descaso, a profissão de lixeiro é rotulada como invisível. Mas invisível para quem? Ele acorda cedo todos os dias, até mesmo antes do galo cantar. Passa em frente da sua casa, pelo menos duas vezes na semana, e você corre com o lixo na mão porque esqueceu de colocar na lixeira.

Invisível não é. Você vê e ainda precisa dele. Mas não reconhece. Endeusa o advogado porque ganhou sua causa, o médico porque fez um bom diagnóstico, o engenheiro pela planta da casa. Mas aquele que retira o lixo não recebe nem um obrigado.

Do outro lado, o lixeiro, que é pai, recolhe o lixo por amor aos filhos. Aguenta calado por depender de cada centavo recebido. E quando chega em casa, agradece pelo trabalho. Elogia o padeiro pelo pão e a esposa pela comida. Não é que ele não sofra pelas corridas no sol, pelo mau cheiro ou descaso das pessoas. É que no mundo dele não há espaço para lamúria. Descansa para que no dia seguinte possa estar  lá outra vez: atrás de um caminhão.

Assista ao vídeo:

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