08/03/2019

Gari de Cosmópolis conta como dificuldades levam ao empoderamento feminino

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: Conheça a história da funcionária pública Silvana Gonçalves

Henrique Oliveira

Desde o século 20, quando foi oficializado pela Organização das Nações unidas (ONU), o 8 de março é conhecido como o Dia Internacional da Mulher. A data, de origem operária, é diferente de outras comemorativas pois suas raízes são mais profundas, por não se tratar de uma data organizada pelo comércio.

A origem da data se diverge em diferentes locais do mundo. Na Rússia, ainda União Soviética, mulheres marcharam pelas ruas de Moscou pedindo igualdade trabalhista após a ascensão do movimento feminino na Internacional Socialista.

Mas, a mais comum das versão se deu em Nova Iorque em um incêndio criminoso que resultou na morte de 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus, em 25 de março de 1911. Todavia, mais perto de nós estão muitas mulheres, que às vezes passam despercebidas em nosso dia a dia, mas são ‘importantes engrenagens’ que movem a sociedade.

Após uma manhã de trabalho, uma pausa para o almoço e uma breve conversa com nossa equipe. Silvana Gonçalves, gari, tem 52 anos. Há 24 anos é servidora na Prefeitura de Cosmópolis onde seu posto de trabalho se concentra na região central, mais precisamente nas ruas adjacentes à Igreja Matriz de Santa Gertrudes.

A toda sorridente servidora pública tem orgulho em falar dos dois filhos que criou. Ora trabalhando em casas de família, ora como garçonete e auxiliar de limpeza em lanchonetes e há quase três décadas como responsável pela limpeza urbana de seu setor.

A mineira de Teófilo Otoni (MG) veio pra Cosmópolis com cinco anos; e desde os dez, ajudou a cuidar dos irmãos quando a mãe dela, dona Maria, foi para o corte de cana na Usina Ester. “O meu irmão mais novo, quando minha mãe saiu para trabalhar, tinha um ano de idade. Na verdade eu quem criei ele, eu fui mãe dele, praticamente. E depois que este meu irmão tinha cinco anos idade, devido às dificuldades de casa, eu saí de casa pra trabalhar em Campinas de doméstica pra sobreviver, né?”, conta Silvana.

Silvana, os filhos e seu esposo, por dez anos moraram na Cidade Alta em uma casa de dois cômodos. Mas graças à seu esforço, em horas extras, conta, e do trabalho de seu esposo em uma antiga fábrica de bebidas da cidade, conseguiram aos poucos construir sua casa, onde confortavelmente, moram no Jardim de Lourdes. “Antigamente as mulheres eram muito submissas aos homens, né? Hoje a mulher tem mais poder”, responde Silvana à nossa equipe quando indagada sobre o poder feminino perante à sociedade.

Com uma pequena anotação em mãos, com uma caligrafia muito bem escrita, Silvana fez uma homenagem às mulheres.À todas as mulheres o meu respeito, minha admiração, meus parabéns, e o meu conselho para que sejam virtuosas. E que busquem dentro de vocês, os mais lindos valores”, declama Silvana em meio à sombra da Praça do Castelo, bem próximo ao local de seu trabalho.

Sobre o valor feminino, a opinião de Silvana é para que as mulheres se amem, e muito além disso, deixem-se serem amadas por pessoas que realmente merecem. Em outra parte de sua anotação, que parece ter preparado para nos apresentar, Silvana deixa um recado: “Eu acho que a gente [mulheres], têm que se amar muito, muito mesmo! Para não aceitar o cargo de segunda opção de ninguém”.

Esta dica, ou orientação, Silvana diz que já deixou para seus filhos. Para a filha, Alessandra (33) anos, que já a presenteou com uma neta, a servidora pública deixou este recado. E para o filho Anderson (27), ela diz que a orientação é que se respeite as mulheres.

“Eu dei este conselho para ela [filha] e para ele [filho]. Respeitar o homem e se respeitar. E para o filho, respeitar as mulheres e se respeitar. Nós temos que nos valorizar, independente de ser homem, de ser mulher. Nós temos que ter o amor próprio”, argumenta Silvana.

A servidora, que desde muito cedo mostrou que não tem medo do trabalho, disse que com 10 anos de idade percorria estradas rurais, em carrocerias de caminhões, na colheita de algodão, laranja, corte de cana e limão pelas lavouras de Cosmópolis e outras cidades da região. “Minha mãe deixava meus irmãos embaixo de uma árvore, pra fugir do sol quente, e eu ia ‘apanhar’ algodão. A tarde íamos embora e noutro dia saía de madrugada…”, conta a servidora.

“A gente que gosta de trabalhar, qualquer serviço a gente sente saudades. Eu tenho saudades de colher algodão, de trabalhar em lanchonete…”, alega. Já com os olhos marejados – de lembrar da mãe ‘Dona Maria’ – Silvana diz que a sua genitora é o grande incentivo e inspiração de sua vida. Além de mãe, Maria é vizinha de Silvana. E todos os dias, ela diz, ter o prazer de recebê-la em sua casa.

“Ela me inspira por que? Pois ela praticamente… meu pai era alcoólatra, ele bebia, quase não trabalhava. E assim ela enfrentou a roça para nos criar, quatro filhos, né? Ela cortava cana, e quando chegava em casa, você olhava debaixo dos braços dela estava aquele sal, do suor”, conta. Silvana relata que a mãe dela nunca teve condições de ter estudado. Mesmo assim, os ensinamentos e conselhos dados pela mãe, são utilizados por ela, que passarão de geração para seus filhos e netos.

Ela deixou o maior ensinamento pra mim que, ‘por mais difícil que a vida esteja, sempre há uma saída. E você vai atrás e… ela ainda deixou outro que ‘só voa alto quem não tem medo de cair, finaliza a entrevista a servidora pública para voltar do almoço ao seu trabalho.

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