09/07/2019

Cosmópolis na revolução de 32: um ‘corredor’ às tropas paulistas na batalha

Estado de São Paulo comemora o início de um dos maiores conflitos armados que aconteceu no Brasil

Henrique Oliveira

“A guerra paulista tinha duas faces: uma voltada para o passado e outra para o futuro”. Assim define o historiador Bóris Fausto, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo em 1998 quando fala da Revolução Constitucionalista de 1932.

Hoje, 9 de julho, o Estado de São Paulo comemora o início de um dos maiores conflitos armados que aconteceu no Brasil, mais precisamente nas fronteiras paulistas com os outros estados.  Todo o início do conflito armado paulista começou ainda na Revolução de 1930, quando o gaúcho Getúlio Vargas assume o poder no Brasil (para muitos historiadores com o uso de um golpe) e declara um interventor para governar São Paulo.

Este episódio foi culminante para destituir o paulista Washington Luiz do poder, acabar com a alternância entre presidentes mineiros e paulistas na chamada ‘República Café com Leite’ que fez inflamar duas frentes da sociedade paulista: a classe média, dos trabalhadores e da oligarquia paulista dos grandes cafeicultores do interior e da capital.

Mesmo sob um governo provisório, Vargas tinha grandes influências no estado de São Paulo e assim angariou partidos para o seu lado, mas ganhou inimigos no decorrer de seu governo a partir de 1930.

Em 23 de maio de 1932, em uma manifestação popular frente à Praça da República, na capital São Paulo, quatro estudantes foram alvejados frente à sede do Partido Popular Paulista. Eram eles: Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo que deram o nome à uma organização que tentava combater Getúlio Vargas e derrubá-lo do poder: o M.M.D.C.

Em 9 de julho de 1932, os paulistas pegaram em armas e enfrentaram as tropas do Governo Federal em várias batalhas no interior de São Paulo, como nas divisas com Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro.

Batalhas foram travadas em cidades como Campinas (SP), onde parte do centro da cidade foi bombardeada por aviões vermelhos do governo brasileiro matando um jovem escoteiro que realizava o trabalho de mensageiro das tropas paulistas. Mais de 600 paulistas morreram nos ‘fronts’ da guerra e mais de 1.000 soldados das tropas federais também tombaram nos combates até a rendição dos paulistas em outubro de 1932.

Mas o que Cosmópolis tem a ver com esta guerra?

Um dos maiores especialistas sobre a Revolução de 1932 na região de Campinas é o jornalista Luiz Roberto Saviani Rey. Segundo ele, as cidades de Cosmópolis e Artur Nogueira (ainda distritos de Campinas) foram importantes locais de auxílio às tropas paulistas por serem uma espécie de ‘corredor’ das batalhas que aconteceram em Itapira e Mogi Mirim para se chegar à Campinas.

O jornalista e pesquisador diz que locais como o Morro Castanho e Morro dos Schwartz foram instaladas trincheiras com soldados armados à espera de uma invasão das tropas federais vindas de cidades que fazem divisa com Minas Gerais. E que bombas e perseguições à moradores desta região foram registradas.

O jornalista conta, após travarem inúmeras batalhas, assim como a ‘Batalha de Eleutério”, os poucos paulistas que resistiram estavam enfraquecidos ante ao numeroso contingente das tropas federalistas, o ‘corredor’ entre as cidades de Itapira e Campinas foi chamada de ‘corredor da morte’.

Neste local estavam as vilas de Cosmópolis e Artur Nogueira que já se prepararam para possíveis confrontos confeccionando trincheiras às margens do rio Pirapitingui e nos morros Castanho e Schwarz. “Muitas bombas foram despejadas sobre o casario e houve perseguições, prisões e mortes. Não apenas de soldados, mas também de famílias que os protegiam”, lembra o jornalista.

Além destes locais, residências serviam de ponto para coleta de ouro para financiar armas aos paulistas. O jornalista conta que o ‘Palacete Irmãos Nogueira’, –  da família proprietária da Usina Ester, servia de local para doação de ouro, alianças, brincos e dinheiro para compra de munições e armas para os ‘fronts’ e que o local também foi esconderijo de grandes patentes dos combatentes paulistas.

Adriano da Rocha é editor de uma página – Acervo Cosmopolense – que resgata a história de Cosmópolis e corrobora a versão do jornalista. “O ‘Paulito’ (Paulo de Almeida Nogueira), foi um dos maiores articuladores do movimento; figura muito importante. São de autoria dele, vários livros sobre a revolução. A importância do Paulito foi tamanha, que ele fez as articulações junto ao governo da Argentina, que forneceria apoio e armas as tropas paulistas. Ele não conseguiu voltar com as armas e tropas argentinas, caso conseguisse com certeza a revolução seguiria outros rumos”, diz Adriano.

O editor diz que Paulo de Almeida Nogueira e sua família foram importantes peças para a condução dos revolucionários paulistas. E que isso fez com que o presidente da época, Getúlio Vargas, perseguisse Paulo de Almeida Nogueira e o fizesse exilar fora do Brasil. Só retornando sob o governo de Eurico Gaspar Dutra.

Um dos jornais da época, ‘O Apito’ faz propaganda da guerra para a população ainda do Distrito de Cosmópolis. O jornal, de propriedade de Thelmo de Almeida, também deixava a pequena vila bem informada sobre o que acontecia nas trincheiras por onde a guerra travava seus momentos mais sangrentos.

A cidade de Campinas, por exemplo, foi uma das cidades paulistas mais arrasadas pelas tropas federais. Segundo Saviani, Campinas era um ponto de encontro das tropas paulistas. Ali estava o alto comando da revolução, e por isso, foi tão bombardeada e havia cosmopolenses nestes locais.

Ainda nestes exemplares dos jornais da época, que estão digitalizados no Centro de Memória de Cosmópolis, as recomendações aos soldados que voltavam após a rendição de São Paulo, era de que não se comentasse sobre o número de soldados mortos, de armamento e munições para preservar o espólio de guerra paulista.

A cidade de Cosmópolis é uma das únicas cidades do interior de São Paulo, que participaram ativamente do levante, que possui uma rua com o nome do presidente Getúlio Vargas, destaca Adriano. Isso porque, segundo o editor, se fez necessário na época da emancipação político-administrativa de Cosmópolis, em 1944.

Hoje em Cosmópolis há um monumento em homenagem aos soldados que combateram na Revolução Constitucionalista de 1932 na Praça da Pátria. Lá estão seus nomes juntos aos soldados da Força Expedicionária Brasileira que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

Ruas com nomes destes soldados também existem na cidade, mas nenhuma fazendo alusão aos soldados.

Imagens: Cedoc – O Estado de São Paulo – arquivo internet

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